sábado, 6 de dezembro de 2008

A tragédia em SC e o ser humano


RUY CASTRO
Dez por um

O ser humano não falha, diz uma amiga minha. Uma tragédia como a das chuvas em Santa Catarina traz à tona mais do que cadáveres de pessoas ou de animais, desperta reações tão graves quanto doenças ou epidemias e destrói mais do que propriedades. Quase sempre, revela também o que há de pior nesse ser humano.Há os que se aproveitam da desgraça para saquear supermercados, bares e farmácias.
Na pilhagem, entram artigos essenciais, mas também cachaça, cigarros, remédios controlados ou o que estiver boiando. Há os que não poupam nem os desalojados e invadem suas casas para se apoderar do que restou. E há os que desviam donativos em benefício próprio ou os interceptam para vender para os desesperados.
O que choca, no caso, não é só o prejuízo material, mas o rombo moral que se instala na humanidade, ao se ver formada por pessoas tão sem respeito ou amor por seus semelhantes. Quando se diz que o ser humano não falha é porque é isso que se espera dele -e ele não nos decepciona.
Ao mesmo tempo, a enchente de Santa Catarina atraiu também legiões de voluntários às zonas atingidas: médicos, enfermeiras, bombeiros, policiais, pescadores, cozinheiros, radialistas, estudantes, assistentes sociais -gente que, muito além de suas obrigações, e correndo risco de vida, estava ali para mitigar, socorrer e salvar.
Quero crer que, para cada canalha que se locupletou, acorreram pelo menos dez pessoas empenhadas em ajudar. Quero crer, não. Tenho certeza -porque, logo nos primeiros dias, quando ainda nem se sabia a extensão do problema, vi a Banda de Ipanema numa esquina, tocando por Santa Catarina, ao lado de um caminhão já abarrotado de donativos.
Era um dia de semana, de tarde. O ser humano, às vezes, falha -para o bem.


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